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Coisas da ditadura da beleza

Um conto de Luiz Fernando Veríssimo

DUAS AMIGAS AO TELEFONE:


- Oi, me conta como foi o encontro de ontem à noite.

- Horrível, não sei o que aconteceu...

- Mas por quê? Não te deu nem um beijo?

- Sim. Beijar, me beijou. Mas me beijou tão forte que meu dente postiço da frente caiu e as lentes de contato verdes saltaram dos meus olhos....

- Não me diga que terminou por aí.

- Não, claro. Depois pegou no meu rosto entre suas mãos, até que tive que pedir que não o fizesse mais, porque estava achatando o botox e me mordia o lábio como se fossem de plástico... Ia explodir o meu implante de colágeno e quase sai o mega hair!!!

- E... Não tentou mais nada?

- Sim começou a acariciar minhas pernas e eu o detive, porque lembrei que não tive tempo de me depilar. E além do mais, me arrebatou com uma luxúria e estava me abraçando tão forte que quase ficou com minhas próteses da bunda em suas mãos e estourou meu silicone do peito....

- E depois, que aconteceu?

- Aí então, começou a tomar champanhe em meu sapato...

- Que romântico...!!!

- Romântico o cacete! Ele quase morreu!!!

-Ai, não!!!! E por quê?

- Engoliu meu corretor de joanete com a palmilha do salto...

- Nossa, que ele fez depois?

- Você acredita que ele broxou e foi embora?

- Acho que ele é viado.

- Só pode!

Luiz Fernando Veríssimo

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